

Sobre amar a si mesmo
O que as pessoas ainda entendem por amar a si mesmos?
Como eu vou amar meus defeitos e erros?
Como vou amar as merdas que foz no passado?
Como vou me amar se eu sou feio, gordo, pobre, doente, etc?
Penso que amar a si mesmo tem duas facetas que podem e, na minha opinião, devem ser complementares: uma é amar a minha essência, amar o Deus em mim, minha Presença Divina, meu Eu Superior, meu Self ou como queiram chamar, em função de suas crenças, o Ser Real, a Consciência Eterna que é imanente a toda Criação.
Como em questões de amor, ainda estamos no jardim da infância, esse amor pelo divino em nós fica ainda num plano mais teórico, mais da intenção, da fé.
Mas é muito importante ir desenvolvendo esta forma de amor e, aos poucos, deixando que ele seja inserido na prática da vida cotidiana, de forma madura e consciente, sem romantismos e nem folclores. Senão rapidinho você vai estar se achando Jesus Cristo, salvador do próximo e do planeta.
A outra faceta é o amor pela minha sombra, pela minha natureza humana frágil, cheia de erros, falhas e imperfeições, incoerências, vícios e desequilíbrios em geral. Difícil amar isso aí né? Mas é só não dar a palavra amar, nesse caso, o significado de concordar, ser complacente ou admirar.
Neste caso, amar significa ter um olhar maduro e compassivo para essa natureza, ainda imperfeita. Mas felizmente transitória e essencialmente irreal e ilusória.
É ter a consciência de que, o que me faz sofrer e me sentir limitado (e por conseguinte projetar isso nas pessoas) são questões evolutivas que ficaram na pendência, curas que não foram feitas, passados que não ganharam um outro olhar emocional.
Eu não tenho que gostar do fraco que eu ainda sou ou das besteiras que eu ainda faço, mas não preciso me rejeitar, me culpar, nem me odiar por isso.
Preciso olhar para esse lugar interno com aceitação, inteligente e amorosa - que também aqui - não significa indiferença nem complacência e nem conformismo.
E com essa aceitação, com coragem, humildade e neutralidade (quatro ingredientes importantes) eu envolvo meus esgotos, minha criança ferida e meu passado fustigador em um sentimento de compaixão e acolhimento.
Compaixão, também é outra palavra que precisa ter um significado preciso aqui: compaixão não é pena. Nesse caso, é a consciência amorosa e não julgadora em relação à nossa parte sombria.
Lembro de C. G. Jung que dizia que "o processo da individuação exige fundamentalmente a ressignificação do olhar para a nossa sombra e a sua integração plena na personalidade".
por Ernani Fornari
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